Casa Discreta

Muitos de nós arquitetos, passamos boa parte da carreira a procura de oportunidades ou chances de fazer projetos que permitam que o nosso jeito de pensar um determinado tema possa se soltar e alcançar a plenitude do que uma possível “liberdade projetual” venha nos permitir fazer.

Aqui no jirau, a gente sempre gostou de não ficar esperando essa tal “oportunidade” e, ao invés disso, entendemos que todos os projetos, cada um deles, sempre foi essa oportunidade. Dessa maneira construímos os nossos mais bem sucedidos experimentos com habitação social, edifícios de apartamentos e de residências.

Começamos pelo nome: Casa Discreta!

Sim, era isso, quando nos procuraram não queriam uma casa para ostentar ou demarcar posição social dentro de um grupo. Havia de ser uma casa para dentro. Os clientes queriam uma casa para eles e não para o condomínio. Não como uma posição de egoísmo, mas sim, de autoconhecimento e simplicidade. E foi disso que a gente correu atras. O projeto vibrava com alma e energia. Havia de ser uma casa para brincar, receber os amigos, descansar, cuidar das plantas, fazer uma fogueira, ler um bom livro, tomar um vinho ou deixar o tempo passar.

Começamos por usar o terreno de 2.400m² aceitando como posto tudo que lá já estava. As árvores, os arbustos, tudo ficou no seu canto, e a casa foi implantada de maneira a não suprimir nenhuma delas.
Resolvemos criar um recuo frontal de 17m afastando a casa da rua. Uma sequência de septos no acesso criou o percurso por patamares que vão conduzindo o visitante até a porta de entrada num promenade que desacelera o ritmo de quem vem da vida agitada da cidade e vai seguindo nessa transição de fora para dentro.

A área social reflete o que acreditamos haver de melhor em uma casa. Os ambientes são integrados, amplos e iluminados. Os espaços são ricos com pés-direitos e materiais distintos definindo os limites entre as salas de ficar e a sala de comer. Um convidativo e sombreado alpendre contorna a sala por três lados, criando a sombra e intimidade necessárias à uma construção nordestina.

A figura da taipa é um detalhe curioso, um experimento com essa técnica construtiva tão tradicional e pouco usada. Nos quartos usamos a taipa de pilão como parede e principal peça da estrutura desse bloco da casa. Já na sala foi usada a taipa de mão, uma técnica muito mais comum e recorrente nas mais simples casas sertanejas. O barro é tema recorrente, seja nas duas técnicas de taipa utilizadas, nas telhas cerâmicas, nos tijolos industriais usados nas vedações, nas tijoleiras que revestem alguns pisos, nos cobogós dos banheiros ou no tijolo manual pintado de branco na parede sinuosa.

 

A iluminação é abundante em cada ambiente e a ventilação cruzada percorre todos os ambientes. A casa é uma fortaleza contra o calor dos trópicos e um convite à brisa do agreste. Lembro que Wandenkolk dizia que “arquitetura precisa ser escultura, por dentro e por fora” e isso me faz pensar que a Discreta traz em si essa qualidade. Estar na casa é como receber um abraço. A casa tem cor, sua arquitetura tem vida. E é nesse tipo de projeto que acreditamos.