Casa Livro – Pierre Souto Maior
Um cliente discreto, de hábitos simples, reservado, comunista, roqueiro, apaixonado pelos livros e que tem no hábito da leitura o principal laço de união do cotidiano da sua família, formada pelo casal e um único filho. Na primeira reunião, na casa onde habita hoje, ele nos disse: “A gente mora na biblioteca. A família chega em casa e vai pra lá, cada um pra sua mesa, cuidar de ler ou estudar o que gosta.” Diferente do que é mais comum hoje em dia, o protagonismo não é da tv, “rainha minha e de vocês”, como já criticara Belchior em Madame Frigidaire, e também não é dos ambientes de estar ou jantar, mas, sim, do lugar dos livros, os metros quadrados para ampliação do conhecimento.
Ao nosso favor, um belo lote, muito bem localizado numa esquina com faces voltadas para oeste e sul. A implantação do programa se dá em favor da intimidade dos ambientes internos. Dessa maneira, conseguimos salas e quartos voltadas para o vazio, estrategicamente posicionado na face nascente. No percurso da casa a fluidez espacial do projeto vai sendo descortinada a cada ambiente. Desde a chegada, na marquise do acesso social, espaços bem iluminados e integrados visualmente entre si, vão se amarrando um ao outro como capítulos de uma história que se interligam revelando, a cada página, o enredo. Assim, o visitante vai sendo conduzido, passo a passo, de maneira a perceber o ambiente social, que se mistura com a escada e percorre pela passarela, findando com a sua passagem na frente da biblioteca, no caminho até os quartos.
Ambientes bem iluminados e integrados visualmente entre si, enchem de fluidez espacial o projeto que vai sendo descortinado no percurso, desde a marquise de acesso, que se abre para o ambiente social, se mistura com a escada e percorre pela passarela que passa na frente da biblioteca, levando o visitante ou morador a ir descobrindo cada percepção do espaço até a chegada dos quartos.
Na esquina, embora nascentes e protegidas pela pestana formada pela laje da coberta, as faces envidraçadas estão vestidas por uma grade de ferro formada por trechos do manifesto comunista de Karl Marx e Friedrich Engels. Com isso, ficam mantidos o mistério e a intimidade da casa, mesmo na fachada transparente, por onde entra a luz, filtrada.