Antes de ler essa casa, recomendamos a leitura do Roteiro para Construir no Nordeste, (1976) de Armando de Holanda. “Comecemos por uma ampla sombra, por um abrigo protetor do sol e das chuvas”
Montada num grande lajedo, a Casa Neblina se debruça sobre uma paisagem encantadora: a Serra Negra, no Agreste pernambucano, um vilarejo rural cheio de charme, que é retiro de muitos aos fins de semana, por juntar uma autêntica vida interiorana com bons restaurantes e bodegas com identidade própria, tudo isso sob um clima ameno e agradável o ano inteiro.
Nome dos lotes mais altos de um aladeirado condomínio de segundas residências, talvez o de maior altitude de Pernambuco, cerca de 950 m, também de desenho do Jirau, seu nome se deve à névoa que, rotineiramente, toma conta de tudo. Esta casa é fruto de um pedido desafiador de clientes que têm muito bom gosto: um lugar para o sossego, para o refúgio, para o afeto e para os amigos, enfim, um lugar para as coisas boas da vida acontecerem. Além disso, ela deveria trazer a bela paisagem de seu entorno para dentro, misturando rusticidade de sofisticação.
Por conta da silhueta do terreno, se chega, em nível, pelo piso social e, então, se pode descer ao piso dos ambientes íntimos, numa lógica contrária ao que normalmente nos deparamos no espaço urbano de nossas cidades.
“Deixemos o espaço fluir, fazendo-o livre, contínuo e desafogado. Separemos apenas os locais onde a privacidade, ou a atividade neles realizada, estritamente o recomende.”
O acesso é feito por uma passarela, meio rampa, meio escada, que se inicia com alguns degraus de concreto que conversam com o pequeno cajueiro que já habitava o lote quando chegamos, e depois se desenvolve rampada até a porta de acesso.
Neste piso social, um único ambiente junta sala de ficar, sala de comer e cozinha. Metade deste grande vão se integra com o terraço gourmet e a piscina de borda infinita, inteiramente construída em balanço, e a outra metade encara a vista da paisagem por uma esquadria de piso a teto, protegida por uma generosa marquise, quase como 'um apartamento de beira-mar encara o mar à sua frente', nas palavras do pedido dos clientes durante a reunião de apresentação do primeiro estudo.
À área social da casa é uma grande plataforma onde, sempre, o principal é a vista, a paisagem, o horizonte infinito.
No piso inferior além de abrigarmos os ambientes de apoio, como lavanderia, quarto e banheiro de serviço, depósitos, e reservatório inferior, temos mais duas suítes, sendo uma suíte de hóspedes e outra, a suíte máster com seu piso em dois níveis e um banheiro que também desfruta da vista fascinante. Na suíte máster, o espaço que fica sob a piscina, em balanço, forma a varanda, o “lugar abrigado, donde se possa participar do desenrolar dos dias e das noites, animados pela luz, pelos ventos e pelas chuvas: lugares de uma arquitetura da experiência humana do ambiente natural...” como aprendemos no clássico Roteiro para Construir no Nordeste, de Armando de Holanda.
Quanto a Materiais, a casa é desenhada sem se apoiar no uso de materiais que possam vir a vencer ou sair de moda em outro tempo. A casa aposta na verdade de materiais e a cartela se resume basicamente a pedra natural, rebocos pintados, e madeira.
Como preza o ensinamento da Escola Pernambucana no seu manual de arquitetura para construir nos trópicos “Trabalhemos no sentido de uma arquitetura livre e espontânea, que seja uma clara expressão da nossa cultura e revele uma sensível apropriação de nosso espaço”.